Quase uma semana sem postar, me parece bastante tempo. Sabe, esse era pra ser um post sobre o melhor show da minha vida, mas não, não vai ser. Eu acho que eu devo ser uma das pessoas mais azaradas na face da terra... Deixa eu explicar.
Sim, o show do green day foi foda. Foi o melhor show da minha vida com certeza... Eu cheguei na fila as 8 da manhã, fiz alguns amigos e lá pelo meio dia meu cel fritou no sol e eu fiquei incomunicável. Algumas horas depois e alguns conhecidos a mais entramos, adotei uma menina de 15 anos pra mim e tomei conta dela. Grade. Quase meio, é nóis. Nisso eram 5h00 da tarde, o show começou as 21h45, umas 4 músicas depois eu percebi que eu ia morrer se continuasse na grade, eu estava de pé a umas 8h, sem comer a quase 10h. Não tava rolando, fui um pouco pra trás e curti o show de lá. 2h30 depois eu não aguentava mais minha perna, não tinha coluna e estava toda arranhada. Eu tinha que abaixar a cada intervalo entre músicas porque eu realmente não tinha mais pernas e pés. O show acabou, foda, muito foda, tocaram tudo e mais um pouco, 36 músicas depois eu cheguei a conclusão que tinha valido a pena esperar 7 anos.
Era 1h da manhã quando o show acabou e eu tentei ligar pra minha mãe pra avisar que o show tinha acabado e a gente tava esperando o pai do Ash nos buscar. Caixa postal direto. Liguei em casa, meu irmão atendeu. Meu avô tava na UTI, ele tava entubado, inconsciente. Eu comecei a chorar na hora, eu não sabia o que fazer, tava me sentindo completamente impotente. Eu sabia de tudo que podia acontecer se meu avô morresse. Eu sabia que meu pai não tava preparado pra isso, que minha tia, prima e meu primo que tinham acabado de perder um pai também não. Eu tive medo. Muito medo.
No dia seguinte eu fui na UTI. Acho que na hora eu já sabia, eu desde de manhã estava angustiada. Muito. Quando eu entrei na UTI pra ir falar com ele, dar tchau eu não aguentei. Eu comecei a chorar de novo, pode parecer que não, mas é chocante ver alguém que você se importa muito deitado numa maca, com um tubo saindo da boca, as mãos amarradas na cama, 3 cachorrinhos em volta completamente ocupados e muitas máquinas apitando em volta. Sai correndo que nem uma criança, chorei. Eu voltei pra lá, conversei mais um pouco com ele, ele mexeu o dedo pra mim. Os batimentos cardíacos dele foram de 75 pra 30 nesse intervalo de tempo e os meus subiram pra mais de 100, ele não podia morrer comigo, eu não saberia como lidar com isso. Os batimentos subiram de novo e eu respirei aliviada. Fui embora, já era tarde, de novo não dormi, passei metade da noite chorando. Acordei com cara de quem tinha apanhado.
Sexta-feira a merda da vivo deu pau, eu não conseguia falar com ninguém da minha família. Peguei o cel de uma amiga emprestado e consegui finalmente falar com meu pai. Descobri que meu avô tinha piorado mais. Que era preu ir pro hospital, meu irmão tava me esperando na porta do cursinho. Quando eu cheguei lá a família inteira já tava lá. Eu entrei pra ver ele uma última vez, e meu irmão para vê-lo pela primeira vez desde que tinha sido internado. Eu acho que poucas vezes na minha vida eu me senti tão frustrada comigo mesmo quanto naquela hora. Eu queria abraçar ele, eu sabia que ele precisava de um abraço, mas eu não sabia se podia e o pior eu não sabia se eu conseguia. Se eu tava pronta pra encostar nele por livre e espontanea vontade depois de tantos anos. E quando eu sai eu falei pra todo mundo que ele precisava de um abraço e ninguém me ouviu, mas quando ele saiu do quarto chorando minha prima resolveu me ouvir e foi até lá abraçar ele, e ele começou a chorar que nem eu nunca tinha visto ele chorar antes.
Eu voltei pra casa, precisava estudar matemática. Tinha vestibular no dia seguinte. 10h42 ele morreu, minha avó ainda estava em casa de depois do hospital. Na hora eu não chorei, fui chorar 1h depois, quando uma amiga veio me sequestrar pra me levar pra comer chocolate. Minha prima ficou puta comigo por ter saído, falou que eu estava sendo desrespeitosa com o meu avô... E isso porque eu não demorei nem meia hora. Eu demorei algumas horas pra dormir, acordei várias vezes durante a noite e sábado não consegui fazer nada.
Fui pro velório, aí finalmente liberei mais algumas lágrimas, porém poucas. Tinha muita gente sofrendo mais que eu, eu tinha que ser forte pelo meu pai, pela minha mãe (que perdeu alguém que era como um pai para ela). É estranho ver alguém que em vida foi sempre tão caloroso deitado em um caixão, tão gelado, tão imóvel, sem vida.
Algumas amigas minhas foram no enterro (brigada por terem ido), e eu de novo recebi olhares feios da família, recebi perguntas do tipo "alguma delas conheceu o vovô em vida?", mas eu ignorei, pelo menos por hora. De novo o caixão não coube no túmulo e lá foram os pedreiros quebrar parte da porta pro caixão passar (o cucão foi gordinho até na morte). Eu não consegui chorar nessa hora (e normalmente teria me debulhado em lágrimas).
Ele foi, e junto com ele muitas memórias boas. Ele foi um grande homem, fez muitas coisas em vida e tenho certeza de que muita gente vai sentir falta dele. Eu vou sentir muita falta dele. Ele me perguntava toda semana do vestibular, eu me enchia, mas eu só fui perceber o quanto ele realmente se importava no domingo de manhã quando meu pai entrou no meu quarto pra me dar a medalinha do meu avô e me falar que ele queria que ficasse comigo, pra me dar boa sorte na prova. Eu várias vezes peguei na medalinha durante a prova, pedi pra ele me guiar, me dar uma luz, e várias vezes quase chorei. Acho que seu avô morrer na véspera do vestibular que você mais quer não é uma boa idéia.
Mas enfim, acho que não fui muito bem hoje, não consegui me concentrar muito bem, além de que estou completamente gripada porque tomei chuva no enterro... e vou indo porque já desabafei demais. E só pra constar, foi por causa de tudo isso que eu sumi.
Fui :*
ps: espero que a minha amiga esteja certa e a 2a lei de Newton realmente exista. Um dia tudo de ruim que tem me acontecido vai voltar em coisas boas...