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sábado, dezembro 03, 2011

Nameless

Prova. Shopping. Outback. Saraiva.
*telefone tocando*
- Alô?
- R., que horas você vem pra casa? Onde você tá?
- Não sei N.. To no shopping, vim almoçar. Por que?
- Papai caiu da moto...

Sabe quando o mundo para? Você para de respirar, as coisas param de fazer sentido, nada faz sentido, você não faz sentido. A única coisa que você sente é um vazio. Um aperto enorme no coração. Uma sensação de impotência que domina todas as suas células. Foi isso que eu senti, ou não senti nesse segundo. Eu queria correr, berrar, chorar, bater, mas eu não podia fazer nada, absolutamente nada.

- R. calma! Não foi nada sério, ele não derramou uma gota de sangue, talvez ele tenha quebrado uma costela. Levaram ele de ambulância pro hospital porque ele tava sentindo muita dor. A gente precisa ir buscar a moto, que horas você chega? Não liga pra mamãe, ela ta mostrando o caminho pra ambulância.
- Assim que der, vou pegar o carro na faculdade e vou pra casa.

Tu tu tu tu

Eu brigo com ele. Falo mal dele. Tenho raiva de muita coisa que ele fala, de muita coisa que ele faz comigo. Raiva de muitas de suas imposições que eu considero conservadores em excesso, mas ele é meu pai e acho que eu só percebi o quanto eu realmente amo ele depois daquele segundo. 

Eu dizia que não ia sentir a falta dele se ele se fosse, que eu não ia me importar, que a minha vida só iria melhorar, mas não. Tudo isso com certeza só foi dito da boca pra fora. Óbvio que eu vou continuar não concordando com várias das atitudes dele, e agora especialmente falando, com andar de moto imprudentemente por São Paulo em dias que está chuviscando, mas eu finalmente aprendi da falta que ele vai me fazer.

Ver ele deitado, imobilizado, só com os olinhos abertos me fez lembrar do meu avô deitado em uma daquelas camas, dos últimos dias deles, do meu cucão que faz mais falta do que eu imaginava que ele ia fazer. 

Sei que não sou eu que estou sentindo a dor física, a dor do trauma de se machucar fazendo uma coisa que adora fazer, mas tem alguma coisa dentro de mim que se machucou demais. Talvez tanto quanto uma clavícula e cinco costelas quebradas, que foi o que realmente aconteceu com ele, mas eu não sei o que é, eu só sei que dói demais e eu também sei que não posso fazer nada pra ajudar, não agora pelo menos. Eu só queria conseguir ser forte pra ele, queria conseguir não chorar, não sentir que eu preciso abraçar alguém e chorar, simplesmente chorar pra tirar essa dor de dentro de mim... ta doendo demais.

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